quarta-feira, 13 de maio de 2015

- Vezo, Vitiu, Vício.

O ônibus segue a trajetória, a chuva me deixa indisposta. O pingo d'agua é somente uma substância HCO3, mas ao final de tudo se torna proporcional ao meu pranto. Me acho semelhante ao ser que constantemente e inconscientemente balança a perna sem parar. Temos algo em comum: ambos queríamos estar em outro lugar.
Talvez, pelo horário, queiramos a cama. Mas o que pode haver de tão bom em se deitar? Nada. Nenhum problema, nenhum afazer... Quem sabe um livro. Uma história, mesmo que fictícia, mas uma história.
Cheguei ao ápice do texto. Quero uma história.
Mesmo que sofrida e dramática, é sempre necessário poder contar algo a alguém. Os sonhos e as leituras imagináveis não podem ser compartilhadas, já que na certa, infelizmente, se me permite dizer, outrem não queira saber.
É difícil ter mundos idealizados quando se esquece de viver a dura e fria realidade. Ambos são opostos, mas como dizia a velha química; os opostos se atraem. Todos vagam pela rua, seja por meio de ônibus, seja caminhando, todos estes necessitam chegar em casa e imaginar inimagináveis coisas. A realidade, caro leitor, nos entristece e nos faz morrer aos poucos.
É por isso que me identifico tanto com o ser do primeiro paragrafo, ele tem um vicio, mesmo que inconsciente, ele tem. O balançar da perna transmite seu nervosismo constante que, infelizmente, se tornou diário, não mais momentâneo. Assim como o cigarro aceso daquele dia distante, assim como a erva daninha queimando meu corpo.
Agora não sou só carbono, tenho em mim nicotinas, substâncias tóxicas até das verduras que comi ontem para ter a suposta sensação de ser saudável. Não tem como fugir, uma hora ou outrora a gente se mata, se vicia, e vai agravando... E tudo é diário, entrou pra rotina.
Acorda, acende um cigarro, bebe um café, se arruma pro trampo, pega um ônibus, te estressa na estrada e vai trabalhar. Quando chega odeia teu mundo, toma teu rivotril e assiste um filme vagabundo. A casa já não é mais aconchegante, a bagunça da sala é gritante e a sua cama é, de longe, inabitável com todas as roupas mal passadas. Mas é seu único lugar.
E você tira o acúmulo pra acumular mais quando for deitar e ter a falsa percepção de que vive, quando o que mais quer é gritar que não dá. Já basta!
Então o homem do balançar, no meio da noite, acorda. Pensa em assinar aquela carta escrita dias atrás, mas chora como uma criança que não consegue decidir se quer ir ou ficar. O choro é amargo e imperceptível, surpreendente, um novo vicio. Com tanta sobrecarga, pega outra cartela e começa a sangrar. Três vícios.
Numa canção de ninar, fecha teus olhos e transborda no sono. O sono profundo, de um sonho lindo, pra nunca mais acordar.


Temos tanto em comum, meu caro, que fica difícil falar. - Gabriela Andrade.