segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Carta para a ansiedade...

Bizarramente nunca pensei em lhe escrever, afinal você tem sempre existido em minha vida e me acompanha em tempo integral. Compreendo que sua presença me aflige e por isso acho que provavelmente esta carta também será limitada. Eu poderia lhe escrever uma tese e narrar a guerra interna gerada por ti, mas a sua presença me barrou.
Todas as vezes que penso em lhe escrever eu não consigo, ironicamente começo a ficar ansiosa… Em tantos níveis você vem me limitando. Tornou-se costume desistir antes de começar e de tanto pensar no que tem de ser feito, eu não faço nada.
Sinto que eu tinha tantas possibilidades, o mundo é enorme e sou possuidora de certo potencial, entretanto, paradoxalmente, sou impedida de seguir em frente. Ergue-se sob mim uma nuvem turva, meu horizonte de expectativas é bloqueado com um emaranhado de questões.
    Você não é sólida, mas frequentemente transfigura-se em um bloqueio ou nessa figura turva que me abraça e perpassa a minha vida. É certo que tudo tem uma pitada sua, todos os meus problemas internos parecem vir sobrecarregados de ti. Ultimamente eu me estagnei com sua sobrecarga, duas palavras entraram em constância na minha vida; procrastinação e confusão.
    Ambas são respingos seus. Ambas me limitam.
Todos os dias eu perco um pouco mais do meu potencial, o cansaço mental me submeteu a isso. São noites mal dormidas e horas perdidas em sua companhia... Sinto que cada vez mais a percepção vital das coisas se esvai. É um processo tenebroso e angustiante, a procrastinação é quase uma afirmação da minha exaustão.
Quando reflito acerca da confusão eu sinto que ela é generalizada, desde pequenos pensamentos de epifania até mesmo coisas ditas "conscientes", esse processo conturbado me colocou um véu sobre meus neurônios e fez com que a turvação da nuvem se apossasse gradativamente da minha "caixa mental" e emocional... Como efeito sublime, às vezes -quase sempre- a realidade é confundida, surrealmente tenho momentos que não consigo compreender o que se passa, sou sugada por uma insegurança e não sei associar o que é real ou não... "Eu estou maluca ou isso ta acontecendo?" Quero dizer que; isso me limita também, fico refém dessas sensações e me paraliso na hora de me posicionar ou agir perante as coisas.
Com o auxílio da minha ansiedade percebo que criei um complexo de medo. Essa criação foi moldada gradativamente, desde minha infância - o que a doutora afirma- nesse contexto eu consigo ter a noção semelhante ao que aprendi na faculdade sobre Nietzsche; "a árvore sente mais as suas raízes do que pode vê-la..."
E eu sinto que estou enclausurada nos meus fantasmas, são figuras conturbadas que aparecem efemeramente em átimos de segundos do meu dia... Difíceis de captar mas que abalam feridas não cicatrizadas. No fim, talvez sejamos os nossos próprios fantasmas.
Nessa conturbação orgânica eu me dilacero e vejo o tempo passar,
“Às vezes me perco
Não sei pra onde ir
Aí eu fecho os olhos
Rezo pra não cair
Eu vejo o tempo passar
Parado em meu lugar
Pensando em tanta coisa
Que eu não sei explicar
Eu já cansei
De perder
Destino deu a chance
E eu não consegui ver
E eu já nem sei
Se vale a pena, mais
Tá tudo tão veloz
E eu no banco de trás
Eu quero desistir

Depois não quero mais

Exemplo vivo da falta

Que a coerência faz
Não quero acreditar

Que pra ser mais feliz

Tenho que renunciar

Tudo que eu sempre quis
Eu já cansei

De perder

Destino deu a chance

E eu não consegui ver
E eu já nem sei

Se vale a pena mais

Tá tudo tão veloz

E eu no banco de trás”

No fim existe uma constância na minha inconstância que me torna coadjuvante da minha própria vida.