domingo, 7 de março de 2021

Medos, fantasmas e vícios..

 Não consigo produzir nada.

Tampouco escrevo.


Existe uma neblina caótica acinzentada que permeia todos os meus dias. 

Trago os cigarros como quem traga a vida; ansiando para que as dores inexplicáveis sumam com o vento e se integrem lentamente ao vácuo cósmico desse ciclo constante dos meus próprios dias.

O relógio marca as horas, mas os tempos não ditos se esvaem lentamente sob meus olhos fotográficos, eles não podem ser palpáveis e, ainda assim, pesam uma tonelada. Como um chicote temporal dilacerante e passageiro, suas marcas ínfimas perante o universo tornam-se devastadoras para o ciclo da minha própria existência.

Assim, a reclusão não é apenas uma opção é como uma obrigatoriedade da prisão que me assola.

Aqui nesse estágio encontro medos, fantasmas e vícios que sempre estiveram embrulhados nessa neblina. É como me guiar através de um caleidoscópio e quanto mais eu aproximo os olhos mais embasados eles se encontram.

Entre livros e filmes, entre os dias e as noites, entre conversas e silêncios; existe um papel celofane de todos os meus anseios e temores bloqueando meu horizonte de expectativas, costumo sentir um excesso do presente e ainda que ouso me afastar para analisar os acontecimentos, enxergo uma teia misturando passado, presente e futuro. E nesse caleidoscópio acinzentado, nebuloso e sujo, os sonhos que um dia tive, se dissipam ao vento repleto de toda a toxicidade que eu respiro, mas ainda tem muita aqui dentro. 

Costumo me imaginar gritando ao universo para mostrar que eu existo, mas estou certa disso?

Me agarro em memórias singelas daquilo que um dia ousei me apegar, e "as palavras e as coisas" se vão para o obsoleto encaixe desse ciclo.  Em busca da prescrição de uma cura, bebo o meu próprio veneno na expectativa de um dia ser vista através dos olhos empáticos que enxergam o mundo ao redor. 

Esqueço-me quem sou, definhei com o tempo... E em um último suspiro, tenho o reflexo de tentar agarrar o tempo, seguro em minhas mãos com os punhos cerrados, mas ele escorre como a areia da praia. Como ousar desafiar essa grande ampulheta chamada vida?


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